quinta-feira, 13 de outubro de 2016
A Mitologia hebraica na Bíblia, “A Palavra dos ´DEUSES´"
A Bíblia, principalmente o Velho Testamento, pertence a uma era mitológica. A história de todos os povos está repleta de lendas, crendices, mitos, alegorias, superstições. Por que a dos judeus teria que ser diferente?Quando o historiador pertence a outra comunidade, ou se encontra afastado dos acontecimentos no tempo e no espaço, ainda se pode esperar alguma imparcialidade. Mas, se quem narra a historia é um dos próprios interessados, é natural que procure exagerar os feitos dos compatriotas, sejam contemporâneos ou antepassados, e subestimar os dos seus adversários. Isso ocorre até nos tempos atuais, em que os eventos ficam registrados na imprensa, em livros, nos filmes, Internet, etc. Mesmo fatos contemporâneos, amplamente divulgados e documentados por todos os meios de registro disponíveis, se prestam a interpretações diferentes, ao sabor das conveniências de cada grupo. Imagine-se o que não ocorreria nos tempos primevos, quando os acontecimentos eram transmitidos por tradição oral, e só muito depois vinham a ser registrados por escrito...
Não há evidente exagero em afirmar que os israelitas num só dia mataram 100 mil sírios? (I Reis 20:29). A nosso ver, cem mil homens não morrem num só dia nem com as mais devastadoras armas modernas. Com as bombas nucleares existe a possibilidade, mas até o momento não nos conta tenha de fato ocorrido. As lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki em 6 e 9-8-45 não chegaram a exterminar tanta gente, pelo menos não no primeiro dia. E note-se que não foram arremessadas contra exércitos aguerridos, mas contra populações civis. Se com os recursos altamente sofisticados da tecnologia atual a empresa não é fácil, imagine-se o que não seria nos tempos em que as armas mais letais eram espadas e lanças, e os veículos mais velozes eram carros puxados por cavalos e camelos...
Pela mesma razão não nos parece muito verossímil que o "Anjo do Senhor" tenha numa só noite exterminado 180 mil assírios (II Reis 19:35), nem que 120 mil "midianitas" tenham sido mortos pelos 300 de Gedeão (Juizes 8:10), nem que os judeus tenham eliminado em um só dia 120 mil da tribo de Judá, "todos homens poderosos, por terem abandonado o Senhor Deus de seus pais" (II Crônicas. 28:6), e ainda levado cativas 200 mil mulheres e crianças do seu povo irmão (II Cr. 28:8).
E o que dizer dos "500 mil homens escolhidos que caíram feridos em Israel' (II Crônicas 13:17) ? Para mim, são evidentes lendas mitólogicas.
E é fato que "Satanás", "Juízo Final", "Ressurreição da carne"(aquela do dia do “Juizo Final”), são algumas das crenças mitológicas que entraram no Judaísmo - e posteriormente no Cristianismo - vindas do Zoroastrismo persa. Os judeus foram tirados de Israel e levados para a Babilônia, onde ficaram exilados até que os persas tomaram Babilônia e instituíram lá uma teocracia do Zoroastrismo.
Na pérsia antiga(atual Irã) a religião dominante e estatal era o Zoroastrismo ou Mazdeismo(ainda hoje existem alguns Mazdeistas, quase todos do Irã). Diz a tradição persa que esta religião foi fundada por um profeta chamado Zoroastro milênios antes de cristo(talvez uns 2000 anos AC, não se sabe a data exata da fundação desta religião).
Os judeus foram libertos da Babilônia pelos persas sob o comando do rei Ciro, que seguia a religião Mazdeista, foi nesta época que boa parte da cultura persa Mazdeista foi copiada e adaptada pelos judeus.
O livro sagrado dos Mazdeistas chama-se Zend-avesta, ele é muito anterior ao Antigo Testamento Bíblico e grande parte da Bíblia é cópia do Zend-avesta.
Um dos principais conceitos do Mazdeismo foi copiado pelos judeus para formarem sua religião: a dualidade. Conforme a religião Mazdeista, o Deus único Mazda tinha um grande rival, que foi criado por ele mais depois se rebelou e se chamava Angra Maniú (ou Iarina), este dualismo foi copiado por diversas religiões do mundo inclusive o Judaísmo, que criou baseado no Mazdeismo o dualismo "YHWH(Javé) X Satanás".
Outro fato é que várias lendas e histórias de deuses surgiram da imaginação dos homens("Deus" lançando fogo dos céus, "Deus" destruindo pessoas e cidades, "Deus" com sentimentos humanos como ira, etc. São mitos, apenas, como na mitologia greco-romana, nórdica, etc) e ainda do contato com espíritos, superiores ou inferiores, que, assim como ocorre hoje nos cultos afro-brasileiros,eram tidos como divindades.
Kardec diz em O Livro dos Espíritos: "Os antigos figuravam os deuses tomando o partido deste ou daquele povo. Esses deuses eram simplesmente Espíritos representados por alegorias.". Diz ele também, no mesmo livro: "os antigos fizeram, desses Espíritos, divindades especiais. As Musas não eram senão a personificação alegórica dos Espíritos protetores das ciências e das artes, como os deuses Lares e Penates simbolizavam os Espíritos protetores da família. Também modernamente, as artes, as diferentes indústrias, as cidades, os países têm seus patronos, que mais não são do que Espíritos superiores, sob várias designações".
E mais à frente no mesmo livro Kardec pergunta, os espíritos respondem e ele dá a conclusão final:
537. A mitologia dos antigos se fundava inteiramente em idéias espíritas, com a única diferença de que consideravam os Espíritos como divindades. Representavam esses deuses ou esses Espíritos com atribuições especiais. Assim, uns eram encarregados dos ventos, outros do raio, outros de presidir ao fenômeno da vegetação, etc. Semelhante crença é totalmente destituída de fundamento?
“Tão pouco destituída é de fundamento, que ainda está muito aquém da verdade.”
a) - Poderá então haver Espíritos que habitem o interior da Terra e presidam aos fenômenos geológicos?
“Tais Espíritos não habitam positivamente a Terra. Presidem aos fenômenos e os dirigem de acordo com as atribuições que têm. Dia virá em que recebereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor.”
(...)
668. Tendo-se produzido em todos os tempos e sendo conhecidos desde as primeiras idades do mundo, não haverão os fenômenos espíritas contribuído para a difusão da crença na pluralidade dos deuses?
“Sem dúvida, porquanto, chamando deus a tudo o que era sobre-humano, os homens tinham por deuses os Espíritos. Daí veio que, quando um homem, pelas suas ações, pelo seu gênio, ou por um poder oculto que o vulgo não lograva compreender, se distinguia dos demais, faziam dele um deus e, por sua morte, lhe rendiam culto.”
Comentário de Kardec: A palavra deus tinha, entre os antigos, acepção muito ampla. Não indicava, como presentemente, uma personificação do Senhor da Natureza. Era uma qualificação genérica, que se dava a todo ser existente fora das condições da Humanidade. Ora, tendo-lhes as manifestações espíritas revelado a existência de seres incorpóreos a atuarem como potência da Natureza, a esses seres deram eles o nome de deuses, como lhes damos atualmente o de Espíritos. Pura questão de palavras, com a única diferença de que, na ignorância em que se achavam, mantida intencionalmente pelos que nisso tinham interesse, eles erigiram templos e altares muito lucrativos a tais deuses, ao passo que hoje os consideramos simples criaturas como nós, mais ou menos perfeitas e despidas de seus invólucros terrestres. Se estudarmos atentamente os diversos atributos das divindades pagãs, reconheceremos, sem esforço, todos os de que vemos dotados os Espíritos nos diferentes graus da escala espírita, o estado físico em que se encontram nos mundos superiores, todas as propriedades do perispírito e os papéis que desempenham nas coisas da Terra.
Vindo iluminar o mundo com a sua divina luz, o Cristianismo não se propôs destruir uma coisa que está na Natureza. Orientou, porém, a adoração para Aquele a quem é devida. Quanto aos Espíritos, a lembrança deles se há perpetuado, conforme os povos, sob diversos nomes, e suas manifestações, que nunca deixaram de produzir-se, foram interpretadas de maneiras diferentes e muitas vezes exploradas sob o prestígio do mistério. Enquanto para a religião essas manifestações eram fenômenos miraculosos, para os incrédulos sempre foram embustes. Hoje, mercê de um estudo mais sério, feito à luz meridiana, o Espiritismo, escoimado das idéias supersticiosas que o ensombraram durante séculos, nos revela um dos maiores e mais sublimes princípios da Natureza"
Vejamos outra semelhança com os cultos afro-brasileiros. Os sacrifícios de animais e de seres humanos na Bíblia lembram bem o que acontece no Candomblé e Quimbanda nos nossos dias.
Lemos também no Livro dos Espíritos:
669. Remonta à mais alta Antigüidade o uso dos sacrifícios humanos. Como se explica que o homem tenha sido levado a crer que tais coisas pudessem agradar a Deus?
“Principalmente, porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade. Nos povos primitivos a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral, ainda não se acha desenvolvido. Em segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem ter uma criatura animada muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isto que os levou a imolarem, primeiro, animais e, mais tarde, homens. De conformidade com a falsa crença que possuíam, pensavam que o valor do sacrifício era proporcional à importância da vítima. Na vida material, como geralmente a praticais, se houverdes de oferecer a alguém um presente, escolhê-lo-eis sempre de tanto maior valor quanto mais afeto e consideração quiserdes testemunhar a esse alguém. Assim tinha que ser, com relação a Deus, entre homens ignorantes.”
a) - De modo que os sacrifícios de animais precederam os sacrifícios humanos?
“Sobre isso não pode haver a menor dúvida.”
Somente espíritos atrasados, ligados a matéria, se deliciam com o sangue de animais. Vejamos esse relato do espírito André Luiz, através da psicografia de Chico Xavier, no livro "Missionários da Luz":
"Diante do local em que se processava a matança dos bovinos, percebi um quadro estarrecedor. Grande número de desencarnados, em lastimáveis condições, atiravam-se ao borbotões de sangue-vivo, como se procurassem beber o líquido em sede devoradora...
Alexandre percebera o assombro doloroso que se apossara de mim e esclareceu-me com serenidade:
- Está observando, André? Estes infelizes irmãos que nos não podem ver, pela deplorável situação de embrutecimento e inferioridade, estão sugando as forças do plasma sanguíneo dos animais. São famintos que causam piedade.
Poucas vezes, em toda a vida, eu experimentara tamanha repugnância. As cenas mais tristes das zonas inferiores que, até ali, pudera observar, não me haviam impressionado com tamanho amargor. Desencarnados à procura de alimentos daquela espécie? Matadouro cheio de entidades perversas? Que significa tudo aquilo? Lembrei meus reduzidos estudos de História, remontando-me à época em que as gerações primitivas ofereciam aos supostos deuses o sangue de touros e cabritos. Estaria ali, naquele quadro horripilante, a representação antiga dos sacrifícios em altares de pedra? Deixei que as primeiras impressões me incandescessem o cérebro, a ponto de sentir, como noutro tempo, que minhas idéias vagueavam em turbilhão.
Alexandre, contudo, solicito como sempre, acercou-se mais carinhosamente de mim e explicou:
- Por que tamanha sensação de pavor, meu amigo? Saia de si mesmo, quebre a concha da interpretação pessoal e venha para o campo largo da justificação. Não visitamos, nós ambos, na esfera da Crosta, os açougues mais diversos? Lembro-me de que em meu antigo lar terrestre havia sempre grande contentamento familiar pela matança dos porcos. A carcaça de carne e gordura significava abundância da cozinha e conforto do estômago. Com o mesmo direito, acercam-se os desencarnados, tão inferiores quanto já o fomos, dos animais mortos, cujo sangue fumegante lhes oferece vigorosos elementos vitais. Sem dúvida, o quadro é lastimável; não nos compete, porém, lavrar as condenações. Cada coisa, cada ser, cada alma, permanece no processo evolutivo que lhe é próprio. E se já passamos pelas estações inferiores, compreendendo como é difícil a melhoria no plano de elevação, devemos guardar a disposição legítima de auxiliar sempre, mobilizando as melhores possibilidades ao nosso alcance, a serviço do próximo."
Outra semelhança com os cultos afro-brasileiros está no urim e o tumim. Sobre essa forma de se comunicar com "Deus" no Velho Testamento, que lembra o jogo de búzios, lemos no Dicionário Bíblico Universal: "Palavras de sentido incerto: designam uma técnica divinatória que consiste em tirar a sorte várias vezes, usando duas pedrinhas ou bastõezinhos ou algum objeto semelhante. Um dos objetos trazia a primeira letra do alfabeto, o alef, inicial de urim, e o outro a última letra, o tau (cf. Ez 9,4), inicial de tumim? Pode-se imaginar isso. O modo como funcionava aparece em 1 Sm 13, 41-42, corrigido segundo o grego: “Saul disse: ‘Se a culpa está em mim... o Senhor... faça dar urim; se a culpa está em Israel, que dê tumim!’ Saul... foi designado. Saul disse: ‘Lançai a sorte sobre mim e meu filho Jônatas!’, e a sorte caiu em Jônatas”. Trata-se portanto de uma resposta por sim ou não, que vai progredindo por precisões sucessivas (cf. 1 Sm 23, 9-12) A operação poderia durar muito tempo (1 Sm 14, 18-19, corrigido segundo o grego). Acontecia às vezes que o oráculo se recusava a responder (1 Sm 14, 37, 28, 6). Sem dúvida, quando não saía nada ou quando os dois resultados saíam ao mesmo tempo. A manipulação das sortes era confiada ao sacerdote Eleazar (Nm 27, 21) ou à tribo de Levi (Dt 33, 8). Depois do reinado de Davi só se encontra uma menção (Esd 2, 63 = Ne 7, 65)."
Um absurdo supor que Deus naqueles tempos, e somente naqueles tempos e não mais hoje, era visto e ouvido pelas pessoas, descendo das nuvens, falando face a face com os homens. Mas se conhecemos hoje a realidade da mediunidade e é um fato que ela sempre existiu, como podemos ver na analogia em diversos pontos entre os cultos afro-brasileiros de hoje em dia e os relatos bíblicos, devemos então concluir o óbvio. Escreveu Kardec em A Gênese: "Os inúmeros fatos contemporâneos de curas, aparições, possessões, dupla vista e outros, que se encontram relatados na Revue Spirite e lembrados nas observações acima, oferecem, até quanto aos pormenores, tão flagrante analogia com os que o Evangelho narra, que ressalta evidente a identidade dos efeitos e das causas. Não se compreende que o mesmo fato tivesse hoje uma causa natural e que essa causa fosse sobrenatural outrora; diabólica com uns e divina com outros. Se fora possível pô-los aqui em confronto uns com os outros, a comparação mais fácil se tornaria; não o permitem, porém, o número deles e os desenvolvimentos que a narrativa reclamaria".
Paulo afirmou: "Vós recebestes a lei por mistérios dos anjos" (Atos 7:53), explicando ainda em Hebreus 2:2: "Por que a lei foi anunciada pelos anjos", e confirmando na mesma epistola, 1:14: "Espíritos são administradores, enviados para exercer o ministério".
Também em Hebreus, (1:7) Paulo afirma: "o que faz os seus anjos espíritos e os seus ministros chamas de fogo".
Está claro que os anjos são espíritos reveladores das leis de Deus aos homens, como afirma o Espiritismo. Paulo vai ainda mais longe, afirmando em Atos 7:30-31, que Deus falou a Moises através de um anjo na sarça ardente. Os anjos são, portanto, espíritos, ministros de Deus, que os faz chama de fogo nas aparições mediúnicas.
Em Hebreus, 12:9, Paulo se refere a Deus como "Deus dos Espíritos".
Houve casos estudados de manifestações de espíritos que eram na forma de línguas de fogo. Essas manifestações confirmam que os fenômenos de Pentecostes e o anjo da sarça ardente foram mediúnicos.
Espiritismo reconhece a ação de Deus na Bíblia, mas não pode admiti-la como a "Palavra de Deus". Na verdade, como ensinou o apóstolo Paulo, foram os mensageiros de Deus, os Espíritos, que guiaram o povo de Israel, através dos médiuns, então chamados profetas. O próprio Moisés era um médium, em constante ligação com Iavé ou Javé, o deus bíblico, violento e irascível, tão diferente do Deus Pai do Evangelho. Devemos respeitar a Bíblia no seu exato valor, mas nunca fazer dela um mito, um novo bezerro de ouro. Deus não ditou nem dita livros aos homens.
Em Números, 11:23-25, temos a descrição de dois fatos mediúnicos valiosos. Primeiro, o Senhor fala a Moisés(fenômeno de audiência). Depois, Moisés reúne os setenta anciãos, formando uma roda, e o Senhor se manifesta materialmente “descendo numa nuvem”. Fenômeno evidente de materialização de Javé, através da mediunidade dos anciãos, reunidos para isso na Tenda, cedendo ectoplasma para o fenômeno. A nuvem é a formação de ectoplasma na qual o espírito se corporifica.
Só os que não conhecem os fenômenos espíritas podem aceitar que ali se deu um milagre, um fato sobrenatural. E podem aceitar, também, a manifestação do próprio Deus. Longe disso. Javé era o espírito protetor de Israel, que se apresentava como Deus, porque a mentalidade dos povos do tempo era mitológica, e os espíritos eram considerados deuses. O filósofo Tales de Mileto já dizia, na Grécia, cinco séculos antes do Cristo: "O mundo é cheio de deuses". Os espíritos elevados eram considerados deuses benéficos, e os espíritos inferiores eram deuses maléficos.
O Capítulo V do Deuteronômio é inteiramente mediúnico. Mas convém lembrar que os sucessos desse capítulo são melhor compreendidos quando lemos o Êxodo, caps. 18 a 20. Nos versículos 13 a 16, do capítulo 18, vemos Moisés diante do povo, para ser o mediador, o interprete - mas na verdade o médium -, entre Deus e o povo. Nos versículos 22 a 31, Cap. V, do Deuteronômio, temos uma bonita descrição de conhecidos fenômenos mediúnicos: o monte Horebe envolto em chamas,a nuvem de fluídos ectoplasmáticos (materializantes), e a voz-direta (novamente, fenômeno de audiência) de Javé. que falava do meio do fogo, sem se apresentar ao povo. E Moisés, como sempre, servindo de intermediário, na sua função mediúnica. Por fim, Javé recomenda a Moisés que mande o povo embora, mas permaneça com ele, para receber as demais instruções.(Vers. 31, cap. 5 de Deut.)
No famoso cap. 18 de Deuteronômio, tão citado contra o Espiritismo, logo após os versículos das proibições, temos a promessa de Javé, de que suscitará um grande profeta para auxiliar e orientar o povo. Como fazia com Moisés, o próprio Javé promete que porá as suas palavras na boca desse médium. Não obstante, sabendo que todo médium está sujeito a envaidecer-se e dar entrada a espíritos perturbadores, Javé determina que o profeta seja morto: "Se falar em nome de outros deuses".
Esta passagem (vers. 20 do cap. XVIII) é mais uma confirmação bíblica do ensino espírita de que, naquele tempo, os espíritos eram chamados "deuses". Javé era espírito-guia do povo hebreu, e por isso considerado como o seu Deus, o único verdadeiro. Mas os profetas (médiuns) de Javé podiam receber outros deuses, como Baal, Apolo ou Zeus, pelo que a proibição bíblica nesse sentido é terrível e desumana, como podemos ver nos textos. A evolução espiritual do povo hebreu permitiria a Jesus vir corrigir esses abusos e substituir a concepção bárbara de Deus dos Exércitos pela concepção evangélica do Deus-Pai, cheio de amor com todas as criaturas.
O Espírito que ditou os Dez Mandamentos a Moisés desempenhava uma elevada missão, preparando o povo hebreu para o monoteísmo, a crença num só Deus, pois os deuses da Antiguidade eram mitos.
Os textos que narram a recepção dos dez mandamentos, que por falta de espaço não reproduziremos, demonstram que houve certas precauções visando à obtenção de fenômenos tipicamente espíritas, da modalidade de efeitos físicos.
Devido às grandes proporções que eles haveriam de assumir naquela ocasião, foram as precauções suscitadas inclusive ao povo (Êxodo 19:9-5). Num determinado momento, a "nuvem espessa", mais que materialização do espírito Javé, constitui foco cumulativo de energias ectoplasmáticas, as quais proporcionaram contundentes manifestações espirituais, e que tinham por fim suscitar o respeito e a crença daquele povo, deveras embrutecido para compreender as realidades extra-físicas.
Mas as características espíritas da fenomenologia narrada se evidenciam ainda mais na observância de três precauções tipicamente relacionadas à obtenção de bons resultados durante as ectoplasmias:
1 - Abstinência sexual(não chegueis a mulher - Êxodo 19:15), para que houvesse suficiente reserva de energias ectoplasmáticas, principalmente as que se desarticulam do centro de força genésico.
2- Assepsia corporal (lavem eles os seus vestidos - Êxodo 19:10-14), a fim de que bactérias e germes não contaminassem o ectoplasma, prejudicando seus potenciais de utilização por parte de Espíritos eminentemente superiores
3 - Elevação moral (santifica o povo - Êxodo 19:10-14), para que houvesse sintonia vibratória com os planos superiores da vida, mínima que fosse, pela oração.
Apesar, porém, do rigoroso preparo, o povo não pôde trespassar certas limitações geográficas, e nem mesmo os sacerdotes o puderam (Êxodo 19:24). É que tais limites deveriam coincidir com determinadas fronteiras vibratórias fixadas pelos Elohim (em geral, Espíritos protetores dos hebreus), cuja finalidade era o isolamento do local em que eles, posteriormente descritos como "anjos" (Cf. Atos 7:53, Gálatas 3:19 e Hebreus 2:2), entregariam a Moisés, sob a chefia de Javé, a pneumatografia dos mandamentos, em tábuas de pedra. Se Espíritos infelizes trespassassem o isolamento vibratório, prejudicariam os trabalhos espirituais, e sabemos que somente poderiam fazê-lo na condição de acólitos de certos indivíduos com eles identificados (Cf. Kardec, O Livro dos Médiuns, 330, e André Luiz, Missionários da Luz; psicografia de Francisco Cândido Xavier, cap. 10 - Materialização, p. 109/10)
Nas páginas da Bíblia encontramos não só o relato de fenômenos espíritas ocorridos com o povo hebreu, mas também ensinamentos precisos e claros sobre a mediunidade.
No Capitulo XII, do Livro de Números, vemos Javé dar aos Hebreus uma das lições que só mais tarde apareceriam de novo, mas então no Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.
Mirian e Aarão falavam mal de Moisés, por haver ele tomado uma nova mulher, de origem cusita. Javé não gostou disso e subitamente "desceu da nuvem", para repreende-los. Descer da nuvem é materializar-se, pois a nuvem é simplesmente a formação de ectoplasma, como a Bíblia deixa bem claro nos seus relatos. Imagina se o Senhor do Universo, o Deus-Pai do Evangelho, faria este papel de alcoviteiro!! Seria absurdo tomarmos este Javé, sempre imiscuído nos assuntos domésticos, pelo próprio Deus!
Como espírito-guia, podemos compreende-lo. E é como espírito-guia que ele repreende os maldizentes, castiga Mirian, mas antes ensina.
Primeiro, diz ele que pode manifestar-se aos profetas (médiuns) por meio de visão (vidência) ou de sonhos. Depois, lembrando que Moises é o seu instrumento para direção do povo, esclareceu: "Não é assim com o meu servo Moises, que é fiel em toda a minha casa". E acrescenta: "Boca a boca fale com ele, claramente e não por enigmas". Cinco formas de mediunidade figuram nesse ensino bíblico:
1) vidência;
2) a de desprendimento, ou sonambúlica;
3) a de materialização;
4)a de voz-direta;
5)a de audiência.
O próprio Javé ensinava a mediunidade, como o apóstolo Paulo, em sua Primeira Epistola aos Coríntios, ensinaria mais tarde a fazer uma reunião mediúnica.
Em várias outras passagens, Javé(Yahweh) fala através da boca dos profetas (Isaías 52:6; Ezequiel 17:21), ou seja, fenômeno de psicofonia ou “incorporação”.
Há também diversas manifestações de espíritos atrasados na Bíblia associadas a Deus. Mas o Deus que amamos e adoramos não pode estar sujeito as paixões humanas. Não se concebe um Deus de infinita perfeição tomado de rancor, pronto a descarregar sobre suas criaturas a sua tremenda ira. E no entanto, embora Ele se diga "misericordioso e piedoso, tardio em se irar e grande em beneficência e verdade" (Ex. 34:6), contam-se para mais de 60 acessos de cólera entre os livros Êxodo e II Reis.
Nos parece estranho também pensar que o Deus Criador, onipresente, "habitava no tabernáculo" (II Samuel 7:6), ou "de tenda em tenda" (I Crônicas 17:5). Ou que Deus "se comprazia com o cheiro dos animais imolados em holocausto" (Números 29:36). Como foi dito, se deliciar com animais mortos é coisa de espíritos atrasados, espíritos ligados a matéria, como os espíritos que se deliciam com os despachos nos cultos afro-brasileiros.
Quem examinar com isenção o texto bíblico, observará que aquele Javé do Antigo Testamento nada tem de comum com o Deus apresentado por Jesus no Novo.
É possível também que muitas das manifestações de Deus no Antigo Testamento sejam apenas lendas mitológicas como as de todos os outros povos da Antiguidade, e eram os profetas quem, com o propósito de infundir respeito, atribuiam a Divindade todos aqueles rompantes de ferocidade de que o Antigo Testamento está repleto. Mas tudo faz crer que o protetor imediato da nação judaica era uma Entidade mais ou menos identificada com a índole guerreira da raça. Cada homem, cada povo, tem o Guia Espiritual que merece, compatível com o seu grau de evolução moral. Podia ser, talvez, um dos antepassados, com autoridade para impor seu domínio sobre os homens. Tais entidades, por atrasadas que sejam, não ficam ao desamparo da Espiritualidade Superior, mas é claro que esta não pode impor ensinamentos que os assistidos não estejam ainda em condições de assimilar. A evolução tem que vir naturalmente, sempre respeitando o livre-arbítrio de cada ser.
O mesmo ocorre ainda hoje, com os "preto-velhos" e "orixás" que orientam os cultos africanos. Quando se dedicam ao bem, trabalhando em favor dos que sofrem, recebem assistência e orientação dos Espíritos elevados. Se preferem a prática do mal, tornam-se vitimas de entidades malévolas e ficam entregues a própria sorte até que, caindo em si, percebam a voz da consciência e, arrependidos, se voltem para Deus.
"Falava Deus a Moisés face a face, como qualquer homem fala ao seu amigo" (Êxodo 33-11) e contudo “Deus” advertiu Moisés: "Não poderás ver a minha face, porque homem nenhum verá a minha face e viverá" (Êxodo 33:20) e em seguida abriu uma concessão: “ver-me-as pelas costas, mas a minha face não se verá” (Êxodo 33:23). E no entanto o próprio Deus afirmou: “Eu falo com Moisés boca a boca e ele vê a forma do Senhor” (Num. 12:8) e mais: “Cara a cara o Senhor falou conosco no monte, no meio do fogo” (Deut. 5:4) e "(Moisés) a quem o Senhor conhecera cara a cara" (Deut. 34:10). Finalmente, "Deus por duas vezes apareceu a Salomão" (I Reis 11:9). Afinal, Deus foi visto ou não?
Acontece que podemos ver a que o legislador hebreu não falava apenas com Javé (Yahweh), pois era outro espírito que lhe dizia: "Vai ao povo e santifica-o hoje e amanhã, que no terceiro dia o Senhor descerá" (Êxodo 19:10-11). Ou ainda: "Protesta ao povo para que não trespasse o termo para ver o Senhor" (Êxodo 19:21). Um outro espírito mencionando o nome do Senhor. Mas este outro Espírito também é chamado "Senhor" nas traduções, o que causa confusão.
Mas deve-se isso ao fato de que foram indistintamente traduzidas por "Senhor" e "Deus" as palavras El, Yahweh, Elohá, e Elohim, que denominavam a Deus e a Espíritos de diversas classes, desde a pureza de Elohá Yahweh e a superioridade de seus ministros, os Elohim, até a inferioridade dos Refaim e Shedim(cf TORRES PASTORINO, La Reencarnación em el Antiguo Testamento, Revista SPIRITVS, dezembro de 1964, p. 19-28).
Argumenta ainda, em outra parte, o afamado autor de "Minutos de Sabedoria": "Quando se trata de DEUS O ABSOLUTO, sem forma, jamais criatura alguma poderá vê-lo, como está escrito em Êxodo (33:20). Mas com YHWH é diferente (Números, 12:6-8).
Pastorino apresenta as seguintes palavras de Moisés como prova da existência de comunicação dos hebreus com espíritos de diversas categorias, em Deut. 32:17-19: "... Inmolaron a los SHEDIM e no a ELOHÁ, a ELOHIM desconocidos, nuevos, aparecidos ha pouco, no temidos por vuestros padres. Olvidaste la ROCA que te engendró, y olvidaste a EL, que te dió el ser. Vió esto YHWH e los despreció, enojado por los hijos e las hijas"(La Reencarnación en el Antiguo Testamento, Revista SPIRITVS, dezembro de 1964, p. 28).
Este texto do Velho Testamento está assim consignado na tradução portuguesa do Pe. Matos Soares: "Sacrificaram aos demônios e não a Deus, a deuses que desconheciam; vieram deuses novos e recentes, que seus pais não tinham adorado. - Abandonaste o Deus que te gerou, e esqueceste do Senhor teu criador - o Senhor viu (isto), e acendeu-se em ira, porque o provocaram seus filhos e filhas".
Como vemos, o Espiritismo(em O Livro dos Espíritos) esclarece tudo isso, ensinando que outrora os Espíritos eram deuses para o homem. Não se compreendia bem que nos fenômenos mediúnicos se tratava com seres humanos desencarnados (uns mais, outro menos evoluídos), os quais sofriam então um processo de deificação. É assim que temos mais um grande princípio de aplicação do Salmo 82, versículo 6: Vós sois deuses(Elohim). E todos vós sois filhos do Altíssimo; exatamente porque todos somos Espíritos, os seres inteligentes do Universo; todos somos filhos de Deus, pois que somos obra sua. (O Livro dos Espíritos, 77)
O trecho bíblico em Gênesis 3:22, assim como Gênesis 1:26 ("Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança"), pertencem, no texto primitivo, aos Elohim, ou seja, aos outrora chamados "deuses", aos espíritos superiores: os prepostos do Criador, porque mensageiros (anjos), executores de suas leis. É, pois, em vão que as teologias tentam identificar a forma plural Elohim com a Trindade, já que em Deuteronômio 32:17, conforme vimos na versão espanhola para o texto de Pastorino, a mesma forma plural Elohim é utilizada para se referir a "deuses falsos", conforme registram hoje mesmo certas versões bíblicas, como a Bíblia de Jerusalém, católica (Ed. Paulinas, 1985), ou, ainda, simplesmente "deuses", como a versão de Almeida (revista e corrigida, 1969) para I Samuel 28:13,onde a pitonisa através da qual o rei Saul conversou com Samuel (já morto), afirma: "Vejo deuses que sobem da terra", isto é, porque acreditava-se que os espíritos habitavam o Scheol, imaginado abaixo da terra.
Nenhuma diferença existe entre o passado e o presente. Deus é o mesmo, os espíritos protetores são os mesmos, nada mudou. Não houve uma época no passado diferente e que não existe no presente. Assim sendo, somente a interpretação espírita resta absolutamente coerente! Javé (Yahweh) não era Deus, o Criador, mas seu representante na Terra, um dos Elohim("anjos", ou seja, espíritos mensageiros de Deus). E por ser o mais evoluído, era deles o chefe, o superior hierárquico. Não sendo Deus, e sim um espírito deificado, tinha sua forma vista por Moisés (cf Números 12:6-8) com quem falava face a face como um homem fala com outro (cf Êxodo 33:11). Ora! Acaso Deus tem forma e fala como um homem fala a outro?...
Destruídas as primeiras tábuas de pedra, nas quais foram pneumatografados (isto é, escritos diretamente pelo Espírito), o legislador hebreu foi novamente ao monte, por ordem de Yahweh, e, materializado numa concentração ectoplasmática ("nuvem"), o excelso Guia Espiritual pneumatografou mais uma vez os imortais comandos (Êxodo 34:1-5)
Ocorreu, assim, a primeira grande revelação da Lei de Deus aos homens, Tudo isso pelas sagradas leis da Mediunidade.
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